Tratar pets como humanos pode ser prejudicial aos animais
Quem tem um bicho de estimação sabe que não se medem esforços para dar uma vida boa para ele, mas médicos-veterinários alertam que cachorros tratados como pessoas podem desenvolver doenças humanas, como ansiedade, obesidade e comportamentos obsessivos
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A relação cada vez mais próxima entre homens e animais pode gerar transtornos caso saia do controle. Isso porque alguns tutores acabam gerando um sentimento de humanização dos pets. De acordo com os médicos-veterinários, é necessário estabelecer um limite para manter um relacionamento saudável com o animal de estimação.
A médica-veterinária e conselheira do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ), Flávia Uchôa, explicou que esse sentimento é comum no século 21 devido à mudança no estilo de vida.
“Antes nossos cães viviam em quintais e tínhamos famílias enormes, cheias de filhos. Atualmente, vivemos confinados em pequenos ambientes, muito próximos uns dos outros, dividindo camas, sofás e também a nossa mesa. Além disso, muitos estão deixando de ter filhos, o que acaba causando uma transferência desse amor paternal para os pets”, explicou Uchôa, que trabalha com hematologia clínica e alimentação natural terapêutica.
Doenças humanas
Quem tem um bicho de estimação sabe que frequentemente não é possível medir esforços para dar uma vida boa para os bichinhos, mas os médicos-veterinários alertam: não é correto tratar nenhum indivíduo como se fosse outro.
“Nós nascemos ‘equipados’ para sobreviver nas condições que a natureza nos impõe como espécie. Quando desvirtuamos esse trajeto, temos que lidar com as consequências físicas e emocionais”, emendou.
A médica-veterinária ainda acrescentou que é preciso entender que amor deve vir acompanhado de respeito. Segundo Flávia, não há problema em tratar o animal como um membro da família, pelo contrário, pois ele é. Mas deve existir um limite neste relacionamento afetivo.
Cão tratado como gente tem doença de gente: ansiedade, compulsão alimentar (que leva à obesidade e com isso a dezenas de outras patologias), comportamentos obsessivos, automutilação, transtorno de separação, gastrite, doenças autoimunes, alterações na microbiota intestinal (disbiose), e todas as consequências oriundas dessa vida estéril e sem graça que os seres humanos impõem animais.
Para Flávia, a felicidade e a saúde física e mental dos cães e dos gatos está diretamente relacionada ao acesso a ambientes onde eles possam ter contato com a natureza, brincar, se sujar, fuçar e cheirar.
“O amar não pode ser transformado em dependência, pois isso gera uma carga emocional muito pesada para os animais. O segredo é ter em mente que se você ama o seu cão, deve tratá-lo como um cão, e não como um “ser humaninho”. Tirar esse direito de poder expressar comportamentos e características próprias de cada espécie pode parecer inofensivo, mas é muito deletério para o animal. Não podemos mais privar nossos animais do direito de serem quem eles nasceram pra ser”, concluiu a médica-veterinária.
Fonte: Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ)
13/01/2021
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