Consultorias apontam oferta suficiente de soja para 12% de biodiesel em abril
A elevação do percentual de biodiesel no diesel para 12% (B12) no próximo mês ajudaria a absorver a oferta adicional de óleo de soja prevista para este ano, em meio a uma safra recorde da oleaginosa, avaliam consultores do mercado
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O mandato do biocombustível está na pauta da primeira reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) marcada para esta sexta (17/3), e a expectativa dos produtores é sair dos atuais 10% para o B12 já em abril.
O aumento viria em um momento oportuno, avalia Nicolle Monteiro de Castro, especialista sênior de preços da S&P Global Commodity Insights, já que as projeções indicam uma elevação de 4% no processamento de soja para produção de óleo e farelo, em relação ao ano passado.
“O Brasil vai ter um adicional de produto para ser colocado no mercado doméstico. O que se faz com esse óleo? Não vejo problema algum de disponibilidade de matéria-prima [para] aumento de mistura em um cenário com três milhões de toneladas a mais de esmagamento, em média”.
Mais de 70% da matéria-prima utilizada no Brasil para produção de biodiesel é óleo de soja. As projeções do mercado indicam uma safra recorde de 153-154,7 milhões de toneladas do grão este ano, das quais 52 milhões de toneladas deverão ser esmagadas no Brasil.
Isso resultaria em cerca de 10,4 milhões de toneladas de óleo entrando no mercado em 2023 – em fevereiro, ainda sem perspectivas de sair do B10, o país exportou 220 mil toneladas de óleo de soja.
Um cenário muito ofertado, com demanda aquém, analisa Marcio Tartari, consultor em Gerenciamento de Riscos pela StoneX.
“No Brasil, o mercado de biodiesel é muito importante para a demanda de óleo de soja. A gente vem de uma demanda fraca no mercado interno. No ano passado, 2,6 milhões de toneladas de óleo de soja foram exportadas — um recorde absoluto. Todo esse óleo produzido internamente não conseguiu ser consumido pelo próprio mercado, o que derrubou o prêmio no porto”, resume.
Tartari observa que a disponibilidade de matéria-prima seria suficiente até mesmo para um B13. Pelos cálculos da StoneX, o B12 de abril até dezembro significaria uma demanda 1,1 milhão de toneladas maior que em 2022 – menos da metade do que foi exportado.
“A partir de um B14, a depender do quanto o Brasil exportar de óleo no começo do ano, pode ser que a gente tenha problemas no final, porque há um descasamento do período de oferta e demanda”.
Nos últimos anos, o pico de oferta ocorreu de abril a junho, logo após a colheita da safra. Mas é em setembro que a demanda aumenta, e o apetite da Índia pelo óleo brasileiro acirra a disputa, e os preços.
Preço do óleo em queda
A desvalorização do real com a quebradeira dos bancos americanos volta a preocupar, em razão dos efeitos na inflação brasileira.
Por sua vez, o preço FOB Paranaguá do óleo de soja está em trajetória de queda desde o início do ano. Começou janeiro a cerca de US$ 1,2 mil a tonelada e no fechamento de ontem (14/3) estava a US$ 1.040.
De acordo com Nicolle, o que tem neutralizado o impacto da queda no preço da exportação no biodiesel é a desvalorização recente do real.
Na sexta da semana passada, a moeda brasileira fechou a US$ 5,13. Nesta quarta (15/3) chegou a US$ 5,29, impactando a composição de preço do óleo no mercado doméstico.
Mesmo assim, o renovável vem reduzindo sua diferença em relação ao fóssil.
Na análise da S&P Global, o spread entre o biodiesel e o diesel caiu de R$ 2,72/litro no primeiro trimestre de 2022, para R$ 1,05/litro no primeiro trimestre de 2023 – considerando o preço de paridade de importação (PPI).
“Quando olhamos para o impacto econômico na cadeia toda de combustíveis, que foi uma premissa muito utilizada no governo do anterior para manter o B10 o ano inteiro, essa questão, de certa forma, já foi neutralizada. Já temos um spread bem mais reduzido entre o fóssil e o biocombustível”, avalia Nicolle.
A pressão menor sobre os preços internacionais pode ajudar na decisão do governo. Petróleo Brent e diesel caíram 4% nesta quarta (15/3), e o óleo de soja acumula 8% de queda na bolsa de Chicago.
“Temos preços que estão mais baixos agora e uma safra muito grande. É um cenário um pouco mais favorável para tomar essa decisão de aumentar a mistura”, defende Tartari.
Ele comenta que os valores estão caindo tanto pelo mercado de óleo, quanto por fatores macroeconômicos, como a possível continuidade de aumento de juros do Fed nos EUA, o que reflete em um cenário baixista para o mercado de commodities.
“Esse aumento de uma mistura agora teria um impacto atenuado em termos de preço porque a gente tem um mercado também mais baixo”, completa.
Fonte: Agência EPBR
Portal do Agronegócio 20/03/2023
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