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Interações entre sistemas socioeconômicos e recursos naturais devem estar na agenda dos líderes

Interações entre sistemas socioeconômicos e recursos naturais devem estar na agenda dos líderes

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Ana Paula Turetta, pesquisadora e chefe de P&D da Embrapa Solos

 

A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) lançou há alguns meses um sumário para tomadores de decisão do Relatório de Avaliação sobre as Interligações entre Biodiversidade, Água, Alimentos e Saúde, conhecido como Relatório Nexus. A publicação oferece a líderes de todo o mundo uma avaliação científica ampla sobre essas interconexões, explorando dezenas de análises sobre a maximização de benefícios no âmbito do nexus biodiversidade, água, alimentos, saúde e alterações climáticas.

O documento é o produto de três anos de trabalho de 165 especialistas de destaque, de 57 países de todas as regiões do mundo, incluindo o Brasil. Um webinar sobre a participação brasileira no relatório, inclusive, será realizado no próximo dia 19 de maio, às 10 horas, com transmissão pelo YouTube (assista aqui). Órgão intergovernamental independente formado por quase 150 governos membros, o IPBES foi estabelecido em 2012 para fornecer a tomadores de decisão avaliações científicas objetivas e atuais sobre a biodiversidade do planeta, por meio da parceria de quatro agências das Nações Unidas (PNUMA, UNESCO, FAO e PNUD).

Mas, afinal, o que significa nexus? Trata-se de uma abordagem que considera as interações entre sistemas socioeconômicos e recursos naturais. Essas interações nos mostram como usamos e gerenciamos os recursos naturais, sociais e econômicos, descrevendo as interdependências (ou seja, como esses recursos dependem um do outro), as restrições (muitas vezes impondo condições ou compensações) e as sinergias (que é o quanto os benefícios são potencializados e compartilhados). Por exemplo: algumas doenças parasitárias, quando tratadas apenas como um desafio de saúde, com o uso de medicamentos, tende a gerar reinfecções. Mas, ao se considerar essas doenças dentro de uma abordagem integrada, que leva em conta a condição do ambiente, como a qualidade da água para o abastecimento de uma comunidade, estaremos tratando a causa do problema, o que irá gerar, além redução na ocorrência da doença, a melhoria na saúde e no bem-estar da população como um todo.

Esse é apenas um exemplo que ilustra as interconexões entre água e saúde, mas muitos outros podem emergir a partir da abordagem nexus, como aquelas que ocorrem entre alimento, água e energia. A agricultura influencia esses três componentes vitais para a nossa sobrevivência. Sabemos que solos saudáveis são a base para uma agricultura sustentável, aquele solo que é rico em matéria orgânica, com uma boa infiltração de água e diverso em sua biota. Esses fatores são fundamentais para, além de garantir a produção de alimentos saudáveis, também contribuir para o sequestro de carbono, regulação hídrica, controle de erosão e tantos outros serviços ecossistêmicos fundamentais para a nossa sociedade.

Ou seja, um solo saudável pode promover a geração de diversos serviços ambientais em áreas agrícolas que vão além da produção de alimentos, e que impactam outros elementos do nexus, como água e energia. E como fazer isso? A partir da adoção de práticas agrícolas conservacionistas, que são capazes de promover essa multifuncionalidade da agricultura.

O projeto Nexus Alimento-Água-Energia (A-E-E), liderado pela Embrapa Solos, com apoio do CNPq e em parceria com UFRRJ, USP São Carlos, Epamig e TNC, finalizado em 2022, avaliou o impacto de práticas rurais na segurança alimentar, hídrica e energética do município fluminense de Rio Claro, localizado no entorno do reservatório de Ribeirão das Lajes, importante fonte de água e energia para a região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. E os resultados comprovaram, por meio de indicadores desenvolvidos pela equipe, que paisagens rurais bem manejadas, a partir da adoção de práticas rurais conservacionistas, podem garantir segurança alimentar, hídrica e energética à sociedade.

O Brasil possui diversas tecnologias que se enquadram nessa categoria, tais como o sistema plantio direto (SPD) e os sistemas integrados, como o sistema agroflorestal e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Inclusive, esses sistemas são contemplados no Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), que é uma agenda estratégica nacional do governo brasileiro para o enfrentamento à mudança do clima no setor agropecuário. E esse ponto nos leva a uma outra característica relacionada ao nexus, que é a identificação dos principais atores e partes interessadas (stakeholders) conectados ao nexo em questão, dos setores público e privado, fundamentais para a identificação das sinergias e compensações entre os setores considerados e que podem facilitar ou dificultar a gestão institucional. Um exemplo relevante dessa articulação é a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, cuja 30ª edição (COP30) reunirá líderes de todo o mundo em Belém (PA), em novembro deste ano. 

Sobre a governança do nexus, o relatório da IPBES nos traz uma importante informação, apontando que a priorização de retornos financeiros de curto prazo, ignorando os custos globais para a natureza, que se refletem em impactos na biodiversidade, água, saúde e mudanças climáticas, incluindo a produção de alimentos, causa prejuízos na ordem de US$ 10-25 trilhões por ano.

Por isso, a mensagem-chave do nexus é a de que é necessário avaliar a integração entre os elementos considerados e identificar as sinergias e os trade-offs, o que dá a chance de maximizar os impactos positivos e minimizar os impactos negativos no sistema. Especificamente em relação à agricultura, essa abordagem oferece a oportunidade de transformar a paisagem rural por meio da adoção de práticas conservacionistas capazes de restaurar a qualidade das terras, aumentar a produtividade, diminuir os processos erosivos, otimizar o uso da água e a geração de energia e colaborar com o sequestro de carbono e com os processos de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.

 

Embrapa Solos

Contatos para a imprensa
solos.imprensa@embrapa.br

14/05/2025

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