Localizado em uma das principais fronteiras agrícolas do país, o município de Balsas (MA) tem se destacado como referência nacional em sustentabilidade no agronegócio. Inserido no Matopiba — região estratégica formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — o polo produtivo reúne tecnologia, escala e responsabilidade socioambiental, avançando com práticas alinhadas aos critérios ESG.
Um dos grandes marcos dessa transformação é a adoção crescente da certificação internacional RTRS (Round Table on Responsible Soy), que chancela propriedades que produzem soja com desmatamento zero, boas práticas trabalhistas, uso de bioinsumos, rotação de culturas e integração lavoura-pecuária.
Com apoio da FAPCEN (Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte “Irineu Alcides Bays”), produtores locais têm adotado o modelo da soja certificada como caminho estratégico para acessar mercados exigentes e mais rentáveis, como o europeu e o chinês. A adesão ao selo é voluntária, e a procura tem crescido.
“A certificação veio dar um novo modelo, uma nova visão de administrar uma propriedade rural. É uma adesão voluntária, onde é o produtor rural que nos procura. É mais que uma ISO internacional. E nós estamos reconhecidos pelo mercado europeu e chinês”, explica a superintendente da Fapcen, Gisela Introvini.
Segundo Gisela, o Maranhão e Piauí concentram o maior volume de soja certificada do Brasil, com destaque para Balsas. A demanda por técnicos capacitados para atender novos produtores cresce a cada safra, impulsionando também a geração de empregos qualificados e fortalecendo a economia regional.
“É um novo modelo muito procurado atualmente. Temos propriedades rurais que nos enchem de orgulho pelos prêmios que recebem com trabalhos científicos sobre carbono estocado. É o reconhecimento do profissionalismo do homem do campo e da valorização territorial da região”, afirma.
O reflexo é percebido na geração de empregos qualificados, na valorização territorial e na abertura de novos mercados. Segundo Gisela, propriedades da região já são premiadas por pesquisas científicas ligadas à fixação de carbono no solo, ampliando a visibilidade do agronegócio do cerrado nordestino.

Agrobalsas: um palco para a nova agricultura
Essa virada de chave no campo é celebrada e potencializada anualmente no Agrobalsas — um dos principais eventos do agro no Matopiba, que chega à sua 21ª edição em 2025. Realizado entre os dias 12 e 16 de maio, na Fazenda Sol Nascente, o encontro trará como tema central “Construindo Pontes”, com foco no equilíbrio entre produção, preservação e desenvolvimento social.
A região de Balsas é considerada uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil, com forte presença na produção de soja, milho e algodão. Há duas décadas, pesquisadores e produtores locais enfrentaram o desafio de adaptar o cultivo da soja à linha do Equador, com clima quente e altitudes mais baixas. A aposta em pesquisa e desenvolvimento gerou resultados.
“Há 20 anos coordenamos o projeto da introdução da soja na linha do Equador. Era um desafio grande por causa das condições climáticas. Precisávamos de cultivares produtivas e adaptar a tecnologia. O Agrobalsas ajudou muito nesse processo, despertando também a importância da rotação de cultivos”, lembra Gisela.
Brasil lidera no mundo
O avanço da soja certificada vai além de Balsas — é parte de um movimento global. Em 2024, a produção mundial de soja com selo RTRS chegou a 7,5 milhões de toneladas, cobrindo 2,2 milhões de hectares. O Brasil lidera com folga: foram cerca de 6,4 milhões de toneladas, com grande parte vinda do Matopiba.
A FAPCEN é hoje o maior grupo de soja certificada do país, responsável por mais de 69% do volume RTRS do Maranhão e 100% do que é certificado no Piauí. São mais de 800 mil toneladas por ano, colocando os dois estados entre os protagonistas do agro sustentável.
Do outro lado do mundo, a Índia chama atenção com 580 mil toneladas de soja certificada em 270 mil hectares — avanço impulsionado especialmente por pequenos produtores. Já Argentina, Paraguai e Uruguai somam juntas cerca de 540 mil toneladas certificadas em 300 mil hectares.
planetacampo.com.br 10/04/2025