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Doçura inconfundível dos vinhos e espumantes de Farroupilha

Doçura inconfundível dos vinhos e espumantes de Farroupilha

A reconhecida qualidade dos vinhos, espumantes e frisantes moscatéis elaborados com a uva moscato, pertencente a um grupo de variedades de uvas de gosto e aroma forte e adocicado, conquistou a IP Farroupilha em 2015

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Esta Reportagem foi publicada originalmente na Edição 724 da Revista A Lavoura

A produção brasileira de vinhos finos conta com ampla concorrência dos importados. Para mudar esse cenário, valorizando um produto nacional, é necessário adotar estratégias de fortalecimento de sua qualidade e imagem ante o mercado consumidor, seja aqui ou lá fora.

A Indicação de Procedência (IP), que faz parte das certificações de Indicação Geográfica (IG) – a outra se chama Denominação de Origem (D.O.) – figura como importante instrumento para melhorar esse setor, como é o caso dos vinhos produzidos a partir de uvas moscato, na região de Farroupilha, Rio Grande do Sul.

Moscatel é o nome dado a um grupo de variedades de uvas bastante adocicadas, utilizadas na elaboração de vinhos e espumantes finos.

Com a IP conquistada no ano de 2015, milhares de produtores e dezenas de vinícolas da localidade já desfrutam de seus benefícios. Mas para tanto, foram necessários dez anos de trabalho até garantir o selo de Indicação de Procedência. E tudo começou em 2005, quando foi criada a Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin).

Variedades

A principal variedade que traz o selo da IP Farroupilha é a tradicional uva do tipo Moscato Branco, historicamente cultivada em solo gaúcho e que, por enquanto, conforme levantamento feito até agora pela Unidade Uva e Vinho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), não é encontrada em outras regiões produtoras daqui e fora do Brasil.

A principal variedade que traz o selo da IP Farroupilha é a uva Moscato Branco – Foto: Acervo Casa Perini

As demais cultivares certificadas são todas moscatéis finas, incluindo: Malvasia de Cândia (aromática), Moscato Giallo, Moscatel de Alexandria, Malvasia Bianca, Moscato Rosado e Moscato de Hamburgo.

Com elas podem ser elaborados os vinhos finos Moscatel Espumante, Vinho Fino Branco Moscatel, Vinho Frisante Moscatel, Vinho Licoroso Moscatel, Mistela Simples Moscatel e Brandy de Vinho Moscatel.

Origem

Presente na Serra Gaúcha desde os anos de 1930, a uva moscato é cultivada comercialmente apenas no Brasil, com destaque para a região sul-rio-grandense.

Farroupilha conquistou a IP com as dezenas de vinícolas localizadas na região – Foto: Ivanira Falcade

A Afavin destaca que esse fato foi confirmado pelo ampelógrafo (cientista que identifica e classifica as cultivares de videira) francês Jean-Michel Boursiquot, da Universidade SupAgro, de Montpellier (França). Mundialmente conhecido por ter redescoberto a variedade Carmenère, no Chile, ele esteve no Brasil em 2014, por intermédio da própria Associação, para fazer o trabalho de identificação da Moscato Branco junto à Embrapa.

Após a visita do especialista europeu, evidências científicas apontaram que essa variedade – que, no Brasil, tem aproximadamente 50% de sua produção concentrada em Farroupilha – seria, até então, a única no mundo, o que ajudou a impulsionar o projeto da Indicação de Procedência de vinhos finos e espumantes moscatéis do município, naquele mesmo ano.

Procedência

Registro: BR402014000006-9

Indicação de Procedência / 2015

Delimitação: A área geográfica contínua de 379,20 km2

incluindo integralmente o município de Farroupilha

 

Projeto “Moscato Branco”

Segundo o enólogo João Carlos Taffarel, mestre em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola e pesquisador da Embrapa, a estatal conduz o projeto “Moscato Branco: Caracterização de uma variedade de uva com produção comercial restrita ao Brasil, visando à valorização da originalidade dos vinhos da IP Farroupilha, RS”, com o objetivo de identificar a origem e de que forma essa fruta foi introduzida no País.

“O projeto não está concluído ainda. Todos os relatos, estudos e pesquisas em bancos ativos de germoplasma, incluindo os principais países produtores, não identificaram a presença dessa variedade como sendo um ativo dos mesmos bancos”, ressalta Taffarel.

O cientista, que já presidiu a Afavin, salienta que “testes mais complexos – como o de DNA – também estão sendo conduzidos para identificar os parentais da variedade, ou seja, quem são os genótipos que originaram essa variedade”.

“Conforme foi relatado, os estudos não foram concluídos, mas já existe um forte indicativo de que seja uma variedade produzida somente no Brasil, o que ajudou – e muito – no desenvolvimento e reconhecimento da Indicação de Procedência de Farroupilha e demais regiões produtoras. A hipótese da originalidade surgiu a partir da observação antiga de que a Moscato Branco, cultivada em terras brasileiras, se distinguia das uvas moscatéis cultivadas na Europa”, explica o enólogo.

Cenário da região

A região de Farroupilha é a terceira maior produtora vitivinícola do País e a maior em âmbito nacional de uvas moscatéis, que são usadas na elaboração de “vinhos tranquilos” e de espumantes finos.

Ainda ocupa a segunda posição no Estado na produção de uvas da espécie Vitis vinífera, destinadas à produção de vinhos finos, de acordo com informações da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados.

A Afavin destaca que a IP Farroupilha possui a particularidade de ter, no interior da área geográfica delimitada, uma Região Delimitada de Produção de Uvas Moscatéis (RDPM), centrada na região tradicional produtora das uvas moscatos.

A RDPM engloba 129 quilômetros quadrados e dessa área devem ter a origem, pelo menos, de 85% das uvas para os vinhos dessa Indicação de Procedência.

A estrutura vitivinícola local envolve 1.279 propriedades vitícolas, em uma área de vinhedos de 3.542 hectares (Cadastro Vitícola 2015) e 43 estabelecimentos vinificadores (Cadastro Vinícola do RS – 2015).

No ano de 2017, a safra vitícola de Farroupilha, segundo dados compilados pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), foi de 67,6 milhões de quilos de uvas para vinificação, correspondente a 9% da vindima gaúcha, de 753,3 milhões de quilos; e 83,5 milhões de quilos processados no município de Farroupilha, correspondendo a 11,1% da vindima gaúcha processada.

Uva moscato-branco.  Foto: Casa Perini

Área de cultivo

A IP Farroupilha abrange uma área geográfica de 379 quilômetros quadrados, contemplando todo o município de Farroupilha, que representa 99% desse espaço delimitado, também incluindo pequenas áreas contíguas ao município: Caxias do Sul, Pinto Bandeira e Bento Gonçalves.

O mais recente Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul (de 2015) mostra que Farroupilha detém a maior área de cultivo de uvas do tipo Moscato Branco no Estado, sendo que, dos 540 hectares da casta em solo sul-rio-grandense, o município responde por 40% (ou 213,15 hectares).

O mesmo levantamento de quatro anos atrás também indica que Farroupilha é responsável, em volume, por 5,8 milhões de quilos da cultivar Moscato Branco – a principal Vitis vinifera Branca do Estado. Isso representa 45,66% do total produzido por toda a região gaúcha, o que corresponde a 12,7 milhões de quilos.

Sobre a produção vinícola, dados do Ibravin revelam que a produção, em 2015, foi de 45,7 milhões de litros de vinhos e derivados, correspondendo a 10,35 % da produção total do Rio Grande do Sul, que girou em torno de 441,5 milhões de litros.

Vista da Vinicola Cappelletti. Foto: Marciele Scarton

Como tudo começou

As atividades em busca da certificação de IP Farroupilha, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), começaram em 2005 com a criação da Afavin. Na sequência, diversas ações foram desenvolvidas, mas a iniciativa ganhou força no ano de 2009, com a aprovação do projeto de Desenvolvimento e Estruturação da Indicação Geográfica.

Vinhos Cappelletti.  Foto: Marciele Scarton

Esse trabalho contou com a coordenação do pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho, que atua na área de Desenvolvimento de Indicações Geográficas de Vinhos Finos e espumantes da Serra Gaúcha.

O deferimento da IP Farroupilha ocorreu em 14 de julho de 2015 e a entrega oficial dos certificados, à Afavin e às vinícolas, foi feita no dia 27 de outubro do mesmo ano.

De acordo com a Associação, o projeto envolveu uma equipe de pesquisadores experientes de diferentes instituições. Além da Afavin e da Embrapa Uva e Vinho, também participaram a Embrapa Clima Temperado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Caxias do Sul (UCS).

A iniciativa teve o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Prefeitura de Farroupilha.

Primeiros rótulos

Família Perini, da Vinícola Perini, tradicionais produtores da região, brindam à premiação de seu espumante Moscatel (foto abaixo). 
Foto: Eduardo Benini

Foto: Casa Perini

Em primeiro de setembro de 2016, junto à divulgação dos resultados da 11ª Seleção de Vinhos de Farroupilha (concurso anual realizado no município), a Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados apresentou, oficialmente, os primeiros rótulos com o selo da IP Farroupilha.

Ao todo foram apresentados 11 produtos – entre vinhos e espumantes – que, após serem submetidos a uma série de análises feitas pelo Conselho Regulador da Afavin, receberam o aval de que estavam em consonância com os requisitos da Indicação de Procedência. Desde então, produtores e vinícolas, que se encaixavam no perfil exigido, foram autorizadas a utilizarem o selo de controle.

Segundo a instituição, os produtos avalizados já se encontram disponíveis ao mercado consumidor, sendo que, até 2018, mais de dois milhões de garrafas de vinhos e espumantes chegaram às prateleiras com o selo IP Farroupilha, ou seja, com qualidade, tipicidade das uvas moscatéis e identidade avalizadas.

Lista de empresas

Vinho Branco Seco Fino Moscato da Adega Chesini é uma das que contam com o selo IP Farroupilha. Foto: Adega Chesini

No total, são oito empresas associadas à Afavin, que comercializam esses primeiros vinhos e espumantes com o selo: vinho Moscato Adega Chesini, da vinícola Adega Chesini; espumante Moscatel Cave Del Vêneto, também da Adega Chesini; espumante Moscatel Monte Paschoal, da Basso Vinhos e Espumantes.

Também fazem parte da mesma lista: o espumante Moscatel Cave Antiga, da Cave Antiga Vitivinícola; o vinho Moscato Castellamare, da Cooperativa São João; o espumante Moscatel Castellamare, da Cooperativa São João; o espumante Moscatel Cappelletti, da Vinhos Cappelletti;

O espumante Moscatel Antonio Augusto Colombo, da Vinícola Colombo; o espumante Moscatel Casa Perini (da Vinícola Perini), o vinho MoscatoTonini (Vinícola Tonini) e o espumante Moscatel Tonini (Vinícola Tonini) completam essa lista.

Adega Chesini. Foto: Adega Chesini

Capital Nacional do Moscatel

Em janeiro de 2019, a Afavin comemorou a oficialização do título de “Capital Nacional do Moscatel” à região de Farroupilha, por meio da Lei nº 13795 sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, “coroando o trabalho realizado pela associação farroupilhense de vinícolas, desde sua fundação, em 2005”.

Casa Perini. Foto: Julio Soares

Na ocasião, o então presidente da Associação e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, o enólogo João Carlos Taffarel, diz ter recebido a notícia “com muita alegria e com a certeza de que estamos avançando no desenvolvimento da região, tanto no que se refere à produção de uvas quanto à elaboração de vinhos, espumantes e outros subprodutos a partir de uvas moscatéis, com grande qualidade e com reconhecimento pelo mercado”.

Ele ainda ressalta “a gratidão da entidade diante da iniciativa e engajamento do poder público municipal na articulação para o reconhecimento do título”, mas pondera dizendo que “há muito ainda a ser feito quanto à promoção da Indicação de Procedência Farroupilha”.

Segundo Taffarel, a Afavin certamente segue empenhada nessa atuação, contando com a colaboração dos produtores de uvas, vinicultores, poder público, associações, entidades e instituições de ensino e pesquisa.

Valorização

“Hoje, somos orgulhosamente reconhecidos por sermos a ‘Capital Nacional do Moscatel’. Isso reforça que precisamos tornar a região ainda mais conhecida e valorizada”, comenta o enólogo.

Para o pesquisador da Embrapa, “muito trabalho e muito esforço coletivo ainda são necessários para o reconhecimento da região pelo seu grande potencial de enoturismo, agregando as diferentes áreas econômicas do município, sejam malhas, metalurgia, hotelaria, comércio, gastronomia, enfim, uma reação em cadeia para o desenvolvimento sustentável da região”.

Taffarel ainda aponta que, com o título de “Capital Nacional do Moscatel”, “fica a expectativa de atrair de investimentos para o setor, tanto na melhoria das variedades para os produtores quanto nas parcerias dos diferentes elos da cadeia vitivinícola”.

O enólogo presidiu a Associação entre os anos de 2005 e 2008 e de 2015 a 2018, quando começou a busca e depois veio a conquista do selo IP Farroupilha. Após eleição realizada no início de maio deste ano, ele se despediu do posto dando lugar à nova presidente da Afavin, Rosane Meggiolaro Cappelletti.

Reconhecimento no exterior

Ainda conforme a Associação, os vinhos, espumantes e frisantes moscatéis farroupilhenses destacam-se continuamente por sua qualidade, conquistando premiações nos principais concursos nacionais e internacionais.

É de Farroupilha – e é moscatel, inclusive – o quinto melhor vinho, em sua categoria, do mundo: o Casa Perini Moscatel, conforme a avaliação da Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ), realizada em 2017.

Fontes: Afavin e Embrapa Uva e Vinho

08/09/2020

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