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Reutilização da cama aviária: manejo e cuidados

Reutilização da cama aviária: manejo e cuidados

A produção de carne de frango em 2024 deverá atingir 16 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2023), o que poderá ser um novo recorde nacional para a série histórica da produção avícola

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Para que as aves atinjam um ótimo desempenho, diversos fatores são necessários, incluindo o alojamento dos frangos de corte em um ambiente adequado para seu desenvolvimento. A cama é um item de fundamental importância na criação de frangos de corte, uma vez que impacta na qualidade e em sua produtividade. Dentre as funções da cama, podemos citar (Hernandes e Cazzetta, 2001; Angelo et al., 1997):

  • Absorção de umidade, diluição das excretas e incorporação de penas e restos de ração;
  • Isolamento térmico;
  • Fornecimento de maior conforto, proporcionando uma superfície macia e evitando atritos e lesões na região do peito, joelho e coxim plantar;
  • Facilita a expressão do comportamento natural das aves, como o de ciscar;

Diversos materiais podem ser utilizados como cama, com destaque à maravalha de madeira, casca de arroz e palhadas de diferentes culturas; e sendo menos comuns o sabugo de milho triturado, casca de amendoim, capim, bagaço de cana, jornal, areia, entre outros.

Diversos estudos relatam que os tipos de materiais selecionados para essas pesquisas não interferem no desempenho das aves (Silva et al., 2018; Brito et al., 2016; Avila et al., 2008; Araújo et al, 2007), no entanto, algumas características são desejáveis para seu uso, como:

  • Alta capacidade de absorção de umidade;
  • Baixo custo;
  • Disponibilidade na região;
  • Possuir textura macia, com partículas de tamanho adequado e homogêneas;
  • Ser isolante térmico;
  • Possibilidade de ser utilizado como adubo após seu uso como cama.
Reutilização da cama

Com o aumento da produção de frangos de corte ao longo dos anos, acompanha-se também a geração de resíduos dessa produção, o que inclui a cama de frango. Em média, é estimado que para cada ave é gerado um volume de cerca de 2,12 kg de cama.

Nesse contexto, uma técnica utilizada pelos produtores visando diluição dos custos produtivos e redução do impacto ambiental, além de tornar a produção mais sustentável, é a prática de tratamento e reutilização da cama em lotes consecutivos.

No Brasil, a cama geralmente é reutilizada por até aproximadamente seis lotes, a depender do clima onde se localiza o aviário. A substituição por cama nova aumenta consideravelmente o custo de produção (Marcolin, 2006) e dependerá diretamente no número de reutilizações da cama. Geralmente, a troca total da cama ocorre nos meses de verão, período em que o material novo oferece mais dificuldade para aquecer (Rossetto et al., 2021). Apesar da reutilização da cama ser um método eficiente, viável economicamente e sustentável, cuidados devem ser tomados quanto a redução e eliminação de patógenos (Rossetto et al., 2021; Roll et al., 2011).

Muitos aspectos influenciam a qualidade da cama. A presença de matéria orgânica, como excretas, restos de ração e penas, somadas as condições de altas temperatura e umidade, favorece o desenvolvimento de patógenos como Salmonella spp, Clostridium spp. e Escherichia coli. A incidência de insetos, destacando-se o cascudinho (Alphitobius diaperinues), também deve ser um ponto de atenção, uma vez que podem ser vetores de patógenos, podendo prejudicar diretamente o desempenho do lote (Simões da Silva, 2022).

A umidade afeta diretamente a qualidade da cama, sendo a umidade de cama ideal em torno de 20%. A alta umidade da cama pode favorecer os seguintes problemas:

  • Aumento das lesões no peito e pés (pododermatites), hematomas, formação de crostas, com consequente prejuízos por condenação a nível de abatedouro (Martland, 1985). Viera et al. (2015) detectaram diferença na incidência de pododermatite a depender do número de reutilização da cama, reforçando a importância do monitoramento da qualidade da cama;
  • Favorecimento da incidência de Coccidiose Aviária, muito comum nas granjas, sendo uma enfermidade intestinal que tem sua disseminação favorecida com alta temperatura e umidade. Essa enfermidade resulta em prejuízos anuais por volta de US$ 3 bilhões à avicultura mundial devido às perdas de desempenho e mortalidade;
  • A condição de reutilização de cama e alta umidade da cama de frango favorecem altos níveis de amônia no galpão e podem atingir níveis de 60 a 100 ppm, sendo que a recomendação seria a de níveis inferiores a 20 ppm (Globolgap, 2007). Altas concentrações de amônia reduzem a taxa de crescimento e eficiência alimentar, causam danos ao trato respiratório e aumentam a susceptibilidade a enfermidades como Newcastle, Aerosaculite e ceratoconjuntivite (Benson et al., 2008; Do et al., 2005).
Manejo e tratamento da cama

No alojamento de um novo lote de frangos de corte é recomendado uma altura de cama de 5 a 8 cm no verão e 8 a 10 cm no inverno. Ao longo da criação do lote, uma condição indesejável é a compactação da cama, o qual pode ser favorecida por condições de alta umidade (como chuvas, vazamento de bebedouros, defeitos em nebulizadores) e pelo próprio crescimento da ave. Para minimizar essa condição, é recomendado o revolvimento da cama, principalmente a partir os 28 dias de idade, de modo a preservar melhor a qualidade da cama, devido à melhor distribuição da umidade e matéria orgânica presente na cama. No entanto, esse manejo deve ser realizado cuidadosamente de modo a minimizar o estresse das aves.

Para que seja possível a reutilização da cama, o material poderá passar por um tratamento químico ou então por tratamento biológico (fermentação). No tratamento químico, podem ser utilizados condicionadores como acidificantes, alcalinizantes, adsorventes, gesso agrícola e superfosfato que são os mais utilizados para tratamento de cama. De acordo com De Toledo et al. (2020), estes condicionadores podem atuar de maneiras diferentes sobre o pH, concentração e volatilização de amônia, umidade e carga microbiana sobre a cama.

A fermentação da cama para sua reutilização pode ocorrer em duas modalidades: fermentação em leiras e a fermentação plana.

  • Fermentação em leiras: as aves são retiradas, assim como os equipamentos do galpão. A seguir, é realizada a queima de penas e resíduos com o uso de um lança-chamas, a cama é amontoada em leiras e coberta com uma lona plástica em toda sua extensão, de modo a induzir sua fermentação. A recomendação da sua duração é de 10 a 12 dias, resultando em uma redução expressiva dos patógenos (Embrapa, 2011).
  • Fermentação plana: nesse método, desenvolvido nacionalmente, não é realizada a queima das penas, sendo que após a retirada das aves e equipamentos, a cama é umidificada e a lona é estendida sobre toda sua extensão, resultando numa vedação total da cama de modo que a impeça a troca de gases por um período de 12 dias. Posteriormente, é retirado a lona e a cama fica em repouso por mais 2 dias para a dissipação da amônia e redução da umidade. É comprovado que a técnica inativa o vírus da Doença de Gumboro, sendo eficaz também contra Salmonella Enteritidis e enterobactérias (Embrapa, 2018).

Após a utilização em vários lotes de frangos de corte, a cama ainda pode ser reaproveitada como adubo orgânico após sua compostagem  (como já descrito no artigo Métodos de descarte de aves mortas), pois é fonte de nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, entre outros nutrientes. Deste modo, o adubo orgânico pode ser produzido e utilizado na agricultura da própria propriedade ou então contribuir com um retorno financeiro com a venda desse produto.

Considerações finais

Por mais que uma boa qualidade de cama de frango não é garantia de um ótimo desempenho, uma cama em más condições certamente irá resultar em prejuízos na performance do lote.

Portal do Agronagócio 12/11/2024

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