Soluções biológicas e manejo inteligente: como a agricultura brasileira pode enfrentar o déficit hídrico nas lavouras
Déficit hídrico é um dos principais fatores limitantes da produtividade agrícola no Brasil, impactando diretamente culturas estratégicas como soja, milho, feijão e café.
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O déficit hídrico é um dos principais fatores limitantes da produtividade agrícola no Brasil, impactando diretamente culturas estratégicas como soja, milho, feijão e café. A escassez de chuvas em momentos críticos do desenvolvimento das plantas, como germinação, florescimento e enchimento de grãos, pode comprometer bastante a formação da lavoura e reduzir os rendimentos.
Foto: Freepik
Em várias regiões do país, produtores já enfrentam a terceira safra consecutiva com frustração ou perdas importantes, consequência não apenas da seca, mas da combinação com estresses térmicos extremos. Nesse cenário, o uso de tecnologias biológicas tem se consolidado como uma estratégia fundamental para manter o teto produtivo previsto na genética da semente escolhida.
Com o agravamento das condições climáticas, é essencial adotar ferramentas que ajudem a planta a atravessar os períodos de atípicos e manter sua fisiologia ativa. Em situações de estresse hídrico, por exemplo, a planta naturalmente entra em modo de sobrevivência: reduz seu ciclo, aborta vagens, altera sua morfologia e direciona energia apenas para garantir sua reprodução. Todo esse processo é controlado por fatores hormonais e fisiológicos que a levam a encurtar o ciclo e formar o mínimo necessário de sementes. É nesse ponto que entram os bioinsumos, que ajudam a planta a manter sua função produtiva mesmo sob pressão ambiental.
Um exemplo prático é o uso de combinações de microrganismos de diferentes cepas de Bacillus, entre elas Bacillus aryabhattai, Bacillus subtilis e Bacillus amyloliquefaciens. Elas formam biofilmes espessos e hidratados ao redor do sistema radicular, criando um microambiente com potencial osmótico que retém água junto às raízes. Isso reduz a taxa de desidratação e proporciona uma hidratação mais eficiente do sistema radicular, fundamental para o funcionamento da planta em momentos críticos. Além disso, essa formação ativa mecanismos internos de defesa, como a regulação do ácido abscísico, hormônio responsável pelo fechamento dos estômatos. Com isso, a planta consegue controlar melhor a perda de água sem paralisar completamente sua atividade fotossintética, fator chave para preservar a produtividade.
Além da proteção física e fisiológica das raízes, blends desse tipo também promovem efeitos no desenvolvimento reprodutivo da planta. Entre os resultados observados estão maior engalhamento, pegamento de flores e melhor formação de cachopinhas (os aglomerados de pequenas vagens), com potencial de conter 3 a 4 grãos cada — desde que a genética da cultivar permita essa expressão. Ensaios de campo, por exemplo, realizados em diversas regiões do Brasil, mostram que lavouras de soja tratadas com um blend dessa ordem chegaram a apresentar incrementos médios de oito a nove sacas por hectare, em comparação às áreas testemunhas sem o produto, seja aplicado no sulco ou via tratamento de sementes.
Foto: Divulgação/Arquivo OPR
Em paralelo, outras ferramentas tecnológicas com a bactéria Bacillus aryabhattai, isolada de solos da Caatinga, notamos o retardo dos efeitos do estresse hídrico e favorecimento do crescimento radicular. Assim, a estratégia é clara: ao ampliar o volume e a profundidade do sistema radicular, a planta acessa mais água e nutrientes no solo, criando um escudo natural contra a estiagem. Já a aplicação de aminoácidos e nutrientes como potássio, magnésio e boro na fase final do ciclo colabora com a translocação de fotoassimilados, garantindo que o enchimento de grãos ocorra de forma eficiente mesmo em condições adversas.
A suplementação foliar com compostos fisiológicos e nutricionais também vem se destacando como uma tática complementar eficaz. Segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul, a adoção dessas estratégias pode reduzir perdas em lavouras em até 30% mesmo em cenários de seca intensa.
Por fim, destacamos que o manejo inteligente do solo continua sendo peça-chave. Práticas como o plantio direto, a rotação de culturas e o uso de cobertura vegetal ajudam na conservação da umidade e promovem um ambiente biológico mais rico para o desenvolvimento das raízes e a ação dos bioinsumos. Somadas às inovações tecnológicas já disponíveis, essas estratégias oferecem ao produtor brasileiro a chance de proteger seu investimento, reduzir riscos e manter sua lavoura produtiva mesmo diante de um clima cada vez mais desafiador.
Fonte: Por Carina Cardoso e Augusto Sanches, agrônomos e coordenadores técnicos de mercado na Nitro
opresenterurtal.com.br 05/05/2025
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