Especialistas da Embrapa, de várias áreas do conhecimento, participaram da criaçao de um documento preliminar com o posicionamento da Instituiçao sobre a pecuária brasileira. O material foi apresentado em um painel preparatório para a COP 30, em Campo Grande (MS), na tarde do dia 24 de março. Durante o Fórum Pré-COP 30, pesquisadores da Embrapa e de outras instituições públicas e privadas discutiram a posição do Brasil em relação à sustentabilidade da produção de carne bovina e seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas. 

Embora ainda não oficial da Embrapa, o documento enfatiza a importância de apresentar na COP 30 um posicionamento baseado em ciência sobre a sustentabilidade da produção de carne bovina no país. A pesquisadora Mariana Aragão, uma das coordenadoras do Fórum, ressaltou que, apesar dos significativos avanços, a pecuária brasileira ainda enfrenta desafios cruciais, como degradação das pastagens, que acarreta redução na produção, na renda e aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de sua intensidade; heterogeneidade da produção, com uma dispersão de 2,5 milhões de produtores no Brasil em diferentes biomas e um acesso desigual à informação e ao crédito. Uma parcela significativa do rebanho (69%) concentra-se em uma minoria de estabelecimentos (24%); desmatamento, sendo responsável por 49% das emissões de GEE. 

Ela também apontou diversas práticas para adaptação às mudanças climáticas e mitigação de emissões que estão sendo desenvolvidas e implementadas no Brasil. Ações focadas em manejo intensivo e diversificação de pastagens, buscando reduzir a dependência do braquiarão (Marandu); adoção de sistemas de integração (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta); confinamento e suplementação estratégica do gado, que demonstram potencial para diminuir a quantidade de emissões por quilo de animal produzido; melhoramento genético, implementação de protocolos de produção sustentável e atenção à saúde e bem-estar animal.

A visão de futuro apresentada por Mariana Aragão é a de um Brasil como potência agroambiental e líder em pecuária sustentável. Para alcançar esse objetivo, ela defende a criação de políticas públicas pautadas em ciência, que estimulem a transparência, a rastreabilidade, a sustentabilidade e a adoção de tecnologias de baixo carbono. Além disso, ela enfatizou a necessidade de investimento contínuo em ciência e tecnologia para garantir uma pecuária tropical mais eficiente, resiliente, inclusiva e protagonista no enfrentamento das mudanças climáticas, considerando um cenário de maior aquecimento global.

O documento sinaliza a intenção do Brasil de levar para a COP 30 uma mensagem clara sobre o compromisso com a sustentabilidade na pecuária, baseada em dados científicos e em tecnologias inovadoras. A iniciativa busca demonstrar o potencial do país em produzir alimentos de forma responsável, contribuindo para a segurança alimentar global e para a conservação ambiental.

Outras abordagens

Em outras apresentações, o professor Luciano Cabral, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), abordou o aproveitamento de coprodutos da agroindústria na pecuária, destacando o uso desses recursos como fonte de energia e proteína, além de seu potencial para reduzir a emissão de metano. O pesquisador Judson Valentim, da Embrapa Acre, falou de tecnologias para produção de baixo carbono na Amazônia, como pastagens biodiversas e o Sistema Guaxupé, enfatizando a intensificação sustentável e a redução do impacto ambiental.

O pesquisador Manuel Macedo, da Embrapa Gado de Corte, discutiu o carbono do solo e protocolos de baixo carbono para uma pecuária sustentável. Na mesma linha, Alexandre Berndt,  chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, defendeu a pecuária tropical como parte da solução na economia circular, mencionando o ILPF, o manejo de dejetos (biodigestores e compostagem), e a reciclagem animal como estratégias eficientes na reduçao das emissões.

O Secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Artur Falcette, tratou das políticas públicas para converter sustentabilidade em renda, com foco no programa de pagamento por serviços ambientais no Pantanal e na importância de integrar a produção com a conservação. Já Eduardo Bastos, da Associação Brasileira do Agronegócio, falou sobre a conversão de pastagens degradadas em sistemas de produção sustentáveis, visando dobrar a produção de alimentos. Segundo ele, em 10 anos a ideia é recuperar 40 milhões de hectares de áreas degradadas. Leonardo Gava Mataram, da Climate Bonds Iniciative, trouxe a perspectiva do setor privado, discutindo a mobilização de capital para a ação climática na pecuária e os desafios para atrair investimentos, como os riscos inerentes ao setor. 

A COP 30, que ocorre em novembro em Belém do Pará, será uma oportunidade para o Brasil mostrar o que já faz e o seu potencial na pecuária sustentável. O Fórum Pré-COP 30, por sua vez, integrou a Dinapec 2025 que foi realizado no Centro de Convenções da Capital, contando com a presença de autoridades, representantes de órgãos públicos e privados, pesquisadores e técnicos. 

Sobre a Dinapec

A Dinâmica Agropecuária - Dinapec é uma realização da Embrapa, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e do Sistema Famasul, com patrocínio da Unipasto, Timac Agro, Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos), Sicoob e Marfrig Global Foods.

Gisele Rosso (MTB 3091/PR)
Embrapa